terça-feira, 3 de abril de 2007

Amor por Computador (Conto)




Hugo tinha 33 anos e era um homem muito solitário. Nunca tinha casado. Nunca tinha namorado também. Teve alguns relacionamentos, mas nada que fizesse muita diferença na sua vida. Nunca fora muito bom com as mulheres e por isso se ocupava muito com o trabalho. Trabalhava numa empresa de jogos de computadores e só vivia para eles. Tanto que nas suas horas vagas ele sempre entrava nos chats da vida, afim de encontrar uma companheira, já que pessoalmente era muito dificil. Ele era muito timido, mas na internet ele se soltava.

Por causa disso, seus amigos viviam lhe enchendo a paciência, dizendo que sair para a caça era muito mais interessante do que ficar sentado na frente do computador. E que um dia ele ia se dar muito mal com aquilo. Porque em vez de ir uma mulher ao seu encontro, viria um macho ou quem sabe um traveco. Mas Hugo nunca ligava pra essas histórias e sempre dizia que preferia ficar em casa mesmo.

Então dois amigos de Hugo resolveram pregar um peça nele e mostrar que sua teoria de que amor por computador não dava certo. Kiko e Rodrigo pra fazerem um serviço bem feito falaram com um amigo deles, o Beto, que adorava zoar as pessoas. Não era apenas seu passatempo predileto, era praticamente sua vida. Sempre que ele tinha oportunidade de zoar alguém, mesmo que fosse desconhecido, ele fazia sem pestanejar. Logo que os dois “amigos da onça” explicaram a situação e deram as coordenadas (horário, sala de bate-papo e apelido), Beto resolveu agir quando tivesse oportunidade.

Assim que chegou em casa, a 18 horas, depois de sair do trabalho, Beto foi logo conectar na internet e procurar a sala de bate-papo. O horario que Hugo entrava geralmente era as 19 horas. Como faltava uma hora ainda, Beto deixou la na sala de bate-papo e foi fazer seu jantar. Pouco depois das 19 horas, Homem-Solitário entrou na sala. Sim, este era o apelido de Hugo e apesar de não ser nada original, era o que ele gostava de usar, porque de certa forma atraia as mulheres também solitárias.

Logo que Hugo entrou no bate-papo, uma janela começou a piscar. Gatinha Carente, ou Beto, estava dando um “oi”. Começaram aquela velha conversa sobre onde moravam, qual o nome, idade, etc. Gatinha Carente, também conhecida como Sônia ou Beto, tinha 26 anos, era morena, tinha cabelos longos, era baixinha, usava óculos. Mandou uma foto sua (no caso o de uma amiga de Beto). Era muito bonita. Morava à 10 minutos da casa de Carlos e tinha como passatempo favorito ficar em casa vendo filmes, lendo livros e conversando nos chats. Coisas que Carlos também gostava de fazer.

Então Hugo perguntou o que ela fazia pra viver, e foi ai que ele viu que talvez, finalmente ele arrumaria uma companheira. Como Beto sabia que ele adorava computadores, inventou uma história dizendo que ela, trabalhava também como criadora de jogos. Depois da pergunta, Hugo voltou a olhar um site de jogos que já estava olhando a um tempão. Poucos segundos depois, a janela tornou a piscar, e sem delongas ele clicou nela. Quando ele viu a ultima frase escrita por Sônia, ele quase deu um pulo da cadeira. Ele não conseguia segurar o sorriso de tão feliz que ele estava. “EU TBM!!!” ele escreveu, antes mesmo “dela” perguntar. Eu também sou criador de jogos, ele escreveu novamente. Nessa hora Beto dava altas gargalhadas olhando para o monitor. Era bom demais para ser verdade, Hugo pensava. “Era linda, inteligente, simpática, gostava das mesmas coisas que eu e ainda tinha o mesmo tipo de trabalho”.

Marcaram logo um encontro pra o outro dia. Numa quarta-feira, às 20 horas em um restaurante de massas perto da casa dos dois. Hugo como estava muito empolgado e ansioso, chegou mais ou menos meia hora antes do combinado. O restarurante estava quase vazio. Só havia umas três mesas cheias, ocupadas por casais. Geralmente não tinha muita gente dia de semana. Como Hugo não gostava de beber álcool, ficou tomando uns refrigerantes, só esperando a hora chegar.

Dez minutos pras 20 horas, Kiko, Rodrigo e Beto chegaram no restaurante. O três não conseguiam parar de rir. Principalmente Rodrigo e Kiko, que também riam da cara de Beto. Beto tinha cerca de 1.65, cabelos pretos e um porte atletico, mas nada de muito exagerado. Mas aquele que estava ali não era Beto propriamente dito, e sim, a Sônia. Vestia uma mini saia preta, um top vermelho, uma maquiagem bem chamativa, uma peruca morena e um salto alto. E era isso que arrancava altas risadas de Kiko e Rodrigo.

As 20 horas em ponto, Sônia entrou no restaurante. Enquanto isso Kiko e Rodrigo permaneceram do lado de fora, só olhando pelo vidro. Ninguém pareceu notar a presença de Sônia, a não ser um garçom que estava perto da entrada e é claro Hugo, que não tirava os olhos de lá. Tanto o garçom como Hugo se assustaram ao ver aquela figura bizarra entrando no restaurante. Mas apesar disso o garçom se aproximou dela para perguntar o que ela desejava. Era uma cliente afinal. Se é que fosse uma mulher de fato. Depois de uma breve conversa com o garçom e depois dele ter apontado na direção de Hugo, a “moça” começou andar. Hugo tinha avisado a Sônia que qualquer coisa se ela tivesse problema pra encontrá-lo no restaurante, era só falar com algum garçom que ele mostraria onde ele estava.

Hugo quando viu o garçom apontando pra ele, e a garota vindo em sua direção, não conseguia acreditar que aquela “mulher”, era sua bela Sônia. Ele rezava para que o garçom apenas tivesse apontado uma mesa boa, pra que esperasse seja lá quem fosse sem ser interrompida, que nem ele. Mas a mulher certamente vinha em sua direção.

Quando ela parou na frente da mesa ela falou com uma voz meio grossa: “Você deve ser o Hugo, né? Prazer eu sou a Sônia”. Hugo não conseguia mover um músculo, muito menos falar. Estava parado olhando para Sônia. Ele tinha certeza que a figura que estava na sua frente era um homem. Tinha certeza absoluta.

“Você é calado assim”, ela perguntou. “Na internet você era bem mais solto. Pensava que ia rolar uma coisa legal hoje, mas nem um oi você me dá”. Ela falava fazendo uma cara tristinha. Mas por dentro Beto morria de rir.

“Oi”, Hugo acabou por dizer. O “oi”saiu tão baixo que Sônia mal conseguiu ouvir.

“O que você disse”, ela perguntou.

Hugo continuou parado e em silêncio. Então Sônia resolveu puxar uma cadeira. Na hora que ela ia sentando, Carlos gritou um “EIIII!!!”

Quem se assustou dessa vez foi Beto dizendo que daquela forma ele “a” mataria do coração. Só o que Hugo conseguiu falar é que a pessoa que estava na sua frente não podia ser a Sônia. Que aquilo era uma brincadeira de mal gosto. Ele não conseguia aceitar aquilo de forma alguma. E acabou saindo do restaurante, irado. Sem falar mais nada.

Beto ainda pensou em segurar ele um pouquinho, mas como já tinha ganho as risadas da noite e não aguentava mais segurar o riso, deixou o pobre Hugo ir embora e ficou rindo ali mesmo sentado a mesa. O povo do restaurante olhava pra ele sem entender. Depois de alguns minutos ele saiu do restaurante para se econtrar com Rodrigo e Kiko que estavam atrás de um carro morrendo de rir também.

Depois desse dia Hugo começou a sair com seus amigos e nunca mais entrou em salas de bate-papo. Hugo nunca soube da armação e nunca comentou aquilo com ninguém. Kiko e Rodrigo também ficaram na sua, mas sempre que tinham oportunidade riam pelas costas de Hugo.

FIM

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